sexta-feira, janeiro 27, 2006

Resultados da Sondagem

Depois de algumas semanas com a questão 'no ar' eis que chega a altura de analisar os resultados obtidos...

Para os mais esquecidos a pergunta era: 'Trabalharia mais uma hora por dia, sem remuneração extra, para o aumento da competitividade portuguesa?'. A esmagadora maioria dos votantes respondeu no Não(69%), seguido do Talvez(23%) e por último o Sim com 8% dos votos.

A verdade é que as pessoas apenas estarão dispostas a trabalhar mais se, por alguma razão, lhes interessar que o façam. É um facto inegável que as pessoas, em geral, apenas fazem alguma coisa se vislumbrarem alguma vantagem para si próprias..e isso não tem mal nenhum, é genético e visa, em última análise, tentar garantir a sua própria sobrevivência!

Presumo, com quase total certeza, que se as pessoas (nomeadamente os votantes da sondagem) tivessem a certeza que essa hora adicional de trabalho seria utilizada realmente para um aumento da produtividade nacional e que, com isso, fossem obter um maior poder de compra, melhor sistema de saúde e melhor educação, votariam (quase?) todas no Sim...

O problema é que a grande maioria das pessoas acredita que, se decidisse trabalhar mais uma hora por dia, essa atitude não conduziria às vantagens acima citadas. Pelo contrário, acham que o rendimento extra eventualmente criado seria aproveitado por algum empresário 'chico-esperto' para enriquecer mais depressa, ou o Governo iria esbanjá-lo com os 'boys', ou, ou, ou.....Mas, e infelizmente, é isso que aparentemente acontece!

Todas as situações de aproveitamento indevido de algumas pessoas (sejam maus empresários, maus governantes ou simplesmente maus cidadãos...) em detrimento do bem geral contribuem inegavelmente para o descrédito das instituições (públicas ou privadas) e para o hipotecar do futuro do País. Mas, é também óbvio, que vivemos num País em que se valoriza a crítica destrutiva em vez da crítica construtiva ou mesmo do elogio (que horror!), a que não pode deixar de estar associado um dos principais sentimentos nacionais: a Inveja!

É em parte a Inveja que nos faz criticar aqueles que têm iniciativa ('Este quer ser dono do mundo!'), que têm vontade de deixar uma marca para o futuro ('Mais um que acha que vai viver para contar a história'), que acreditam que Portugal pode ser maior e melhor ('Mais um iludido!), quando a nós só nos apetece ficar deitados estupidamente no sofá a ver o BigBrega! Na realidade esse tipo de pessoas incomodam-nos e fazem-nos sentir inferiores porque nos transmitem uma imagem daquilo que, bem lá no fundo, gostaríamos de ser ('Eu era gajo para, se quisesse, ser melhor jogador de futebol que o Cristiano Ronaldo!!'-diz o Zé lá do Bairro deitado no sofá, com o palito na boca e a beber uma bejeca...) mas que por ser demasiado exigente, por dar demasiado trabalhar não somos...e assim sendo critiquemos: é mais fácil e faz-nos, nem que por breves segundos, aumentar o nosso triste ego!

É em parte a Inveja que faz com o partido X critique o partido Y quando este quer implementar projectos que, surpreendentemente, o partido X apoiou na legislatura anterior, e que tinham sido estudos na legislatura ainda anterior a essa por Y (ufa!) porque agora, os mesmos projectos vão ser a causa da ruína do País (Viva a Coerência!)...Na realidade os membros do partido X estão apenas a pensar 'Se eu não consegui construir aquilo também não vão ser aqueles filhos da p... que vão fazê-lo!!'.

É em parte a Inveja que faz com que, em vez de comprarmos determinado produto no vizinho da esquina, vamos comprá-lo a um espanhol qualquer e contribuir para a riqueza de um desconhecido ('Mas ao menos este sacana deste meu vizinho não vai ficar mais rico...andar a sustentar malandros, eu?!!)

Pareço notar nas pessoas, de uma forma geral, um certo cansaço deste tipo de atitudes e sentimentos...Estamos todos fartos de ver as coisas acontecerem repetidamente, vezes e vezes sem conta, como se estivessemos metidos num ciclo infernal e infinito!

Vamos, todos esses, adoptar uma nova postura. Em vez de nos estarmos a borrifar para as coisas vamos: ser críticos construtivos, analisando os assuntos antes de omitirmos opinião; protestar com as injustiças e as desigualdades; preencher os livros com reclamações e exigir a resolução das mesmas; escrever as nossas opiniões nos jornais; exigir políticas governamentais justas e eficientes; formar movimentos de cidadãos para os temas que nos são mais caros, etc, etc, etc....Obviamente que esta atitude tem um problema: quando começamos a ser mais exigentes com os outros, em algum momento, vamos nos deparar com outros a serem mais exigentes conosco! Estamos preparados para isso?