sexta-feira, maio 07, 2010

A Inversão do Conceito de Justiça ou a Pura Sem-Vergonhice?

Recentemente o Governo da República decidiu impor um tecto aos valores máximos dos subsídios de desemprego.

De acordo com o executivo a medida visa acabar com algumas situações em que os desempregados tinham mais vantagem em estar a receber o respectivo subsídio do que a trabalhar.

Não podia estar mais de acordo com tal medida pois a manutenção da situação anterior correspondia a um desincentivo para regressar ao mercado de trabalho e, como tal, desvirtuava a razão da existência do subsídio de desemprego.

O subsídio de desemprego existe para apoiar as pessoas que querem voltar ao mercado de trabalho e não conseguem e não para permitir que algumas pessoas com menos escrúpulos vivam à conta do subsídio quando podiam estar a trabalhar…até porque quem sai prejudicado desta situação são aqueles que realmente precisam!

Contudo não posso desligar esta medida de toda a polémica em redor dos prémios dos gestores públicos e dos gestores das empresas participadas pelo Estado.

Apesar de um discurso politicamente correcto do Governo argumentando que a sua proposta era a de redução dos prémios dos referidos gestores, a realidade está bem longe do discurso.

Enquanto nas empresas participadas tal proposta foi liminarmente rejeitada mesmo nas empresas do Estado verificam-se situações vergonhosas.

Se é verdade que nestas últimas empresas houve uma redução dos prémios atribuídos aos gestores, a verdade é que em muitas delas não devia haver sequer prémio. Afinal, e para citar apenas um caso, como se justifica que a Refer apresente prejuízos de quase 113 milhões de euros e continue numa péssima situação económica e, apesar disso, os seus gestores vejam os prémios aumentados em 13%?!

Se o discurso do Governo era para ser levado a sério exigiam-se medidas sérias do executivo nestas escandalosas situações! E mesmo em relação às empresas participadas, nas quais o Governo não tem poder para alterar as decisões, o executivo, se acredita mesmo no que diz, devia criar um imposto extraordinário para garantir que os gestores vissem os seus prémios reduzidos nos tão prometidos 20%.

Não é aceitável que se seja tão célere a corrigir situações que afectam os menos privilegiados e se assobie para o lado quando se tratam de situações que beneficiam aqueles que, felizmente, já vivem mais desafogadamente…

É esta falta de ética e de justiça social, esta espécie de vale tudo que corrói as sociedades e contribui para um sentimento de descrédito e de falta de esperança no futuro.

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