Uma Verdadeira Política Desportiva
Tendo em conta que a esmagadora maioria dos clubes sobreviviam há muito graças aos apoios financeiros do Governo Regional (GR), e sabendo qual a situação financeira da própria região, este estado de coisas não pode constituir propriamente uma surpresa.
O que já pode ser mais surpreendente é a inércia e a falta de ideias demonstrada pelo GR. No desporto – como aparentemente em muitas outras coisas – parece que o GR vive num estado de negação que não lhe permite perceber a verdadeira situação da região. E, naturalmente, sem um diagnóstico correcto é impossível estabelecer planos e políticas realistas para resolver as situações.
O facto é que para os clubes, desde há muito e por uma continuada má gestão, cada época representava um aumento do seu passivo e um mais um passo na direcção do precipício. Evidentemente que esta situação não era financeiramente sustentável e que, mais dia menos dia, daria origem a situações de insolvência.
Julgo que este momento deve ser encarado – com coragem e visão – como uma oportunidade para acabar com esta politica desportiva ruinosa e estabelecer um novo modelo que seja sustentável para uma região como a Madeira.
Mas não basta reduzir os apoios financeiros e manter a mesma estratégia!
Existem um conjunto de princípios e ideias que devem suportar uma nova estratégia desportiva:
• O apoio aos escalões de formação, mas que não tem de ser necessariamente feita apenas em dinheiro, que muitas vezes é usado pelos dirigentes para outros fins como o seja o apoio ao futebol profissional.
• A criação de 1 clube único para todas as modalidades ditas amadoras. Por exemplo, no voleibol, em vez da região estar a subsidiar as equipas seniores masculinas e femininas de Machico, Câmara de Lobos, Marítimo e Madeira (para nomear apenas algumas), existiria apenas uma equipa sénior masculina e outra feminina desse clube único que competiria a nível nacional e funcionaria como receptáculo dos jogadores madeirenses das camadas jovens dos restantes clubes regionais.
• Utilização única e exclusiva de atletas madeirenses nesse clube único.
• Relativamente ao futebol profissional, devia também ser concretizada a criação de um clube único capaz de lutar pelo título da Primeira Liga Portuguesa de Futebol e que garantisse uma quota mínima de 50% de madeirenses no plantel. Se é possível ao Atlético de Bilbao jogar apenas com jogadores da sua região no mais competitivo campeonato do mundo porque não é possível ter pelo menos 50% de atletas da Madeira?
• Ainda relativamente ao futebol profissional, devia ser criado um Campeonato Regional de Futebol, provavelmente com equivalência à Divisão Madeira da 3ª Divisão Nacional, em que participariam as equipas regionais seniores - inclusivamente as do Marítimo, União e Nacional. Isto permitiria reavivar a paixão e as rivalidades saudáveis que o futebol regional teve noutros tempos e, ao mesmo tempo, contribuir para a dinamização da vida económica dos vários concelhos através das ‘romarias’ aos campos de futebol que os clássicos regionais costumavam dar origem.
Julgo que esta estratégia permitiria simultaneamente reduzir drasticamente custos financeiros e, igualmente importante, dar mais e melhores oportunidades aos atletas madeirenses, em vez de estarmos a patrocinar brigadas de atletas estrangeiros.